Protestos começaram em São Paulo e espalharam-se por todo o país
Cerca de 200 mil brasileiros saíram à rua um pouco por todo o país, no maior movimento de protesto no Brasil dos últimos 20 anos. Só as manifestações contra a corrupção do governo de Collor de Mello, em 1992, juntaram tantas pessoas.
Os protestos aconteceram em 12 capitais estaduais do Brasil. Em sete destas cidades, houve distúrbios violentos, incluindo no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
O jornal brasileiro "Folha de S.Paulo" adiantou esta terça-feira que, em São Paulo, 84% dos manifestantes dizem não ter preferência partidária e que a maioria têm entre os 26 e os 35 anos.
"A tarifa foi só uma faísca", dizia o cartaz de um manifestante no protesto que começou na tarde de segunda-feira, em São Paulo, e seguia com dezenas de milhares de pessoas até a noite (madrugada desta terça-feira em Portugal).
E o cartaz tinha razão: o foco inicial dos protestos, o aumento das passagens dos autocarros, metros e comboios, foi ampliado. Os manifestantes gritaram contra a corrupção em todas as esferas do governo, a violência, a repressão a protestos, a realização do Mundial 2014 no Brasil, a precária situação dos transportes, da saúde e da educação, e também contra alguns assuntos debatidos pelo Legislativo do país.
"Finalmente brasileiro passou a prestar mais atenção na política do que no futebol", afirmou à Lusa no protesto o administrador Marcelo Vicinti, de 31 anos.
Entre temas do legislativo que foram criticados está a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, que, se aprovada, diminuirá o poder de investigação do Ministério Público. "Contra a PEC 37 e o Michel Teló", dizia outro cartaz, bem humorado, sobre o cantor de música sertaneja, demonstrando a heterogeneidade de intenções dos presentes.
Um dos motivos da ampliação do protesto, tanto em número de pessoas como em quantidade de reivindicações, foi a truculência da Polícia Militar na manifestação da última quinta-feira, quando foram usadas bombas de gás lacrimogéneo e balas de borracha. Dois jornalistas foram atingidos nos olhos.
Na segunda-feira, muitos presentes diziam estar ali apenas para apoiar o direito das concentrações nas vias públicas. Em São Paulo, o protesto foi pacífico, diferentemente do que ocorreu em outras cidades, como Rio de Janeiro e Porto Alegre, onde houve confronto com a polícia.
Os manifestantes paulistanos caminharam em grupos diferentes por mais de cinco horas, alguns deles por mais de 15 quilómetros, e ocuparam o centro financeiro do município e alguns pontos turísticos, como a Ponte Estaiada e a avenida Paulista.
A polícia não usou balas de borracha, mas recorreu às bombas de efeito moral em pelo menos um momento: quando manifestantes tentavam invadir a sede do governo do Estado.
Os manifestantes eram majoritariamente jovens, mas havia também adultos e idosos, como Marita Ferreira, 82 anos, que segurava um cartaz dizendo "Não vim para brincar, vim para me manifestar". Ao ser questionada sobre o principal motivo de estar no protesto, respondeu que queria "lutar por um mundo melhor".
Bandeiras, apitos, bandeiras e flores compunham os principais adereços dos presentes, que eram aplaudidos por pessoas nas janelas. Caras pintadas de verde e amarelo, nas cores da bandeira brasileira, também eram comuns, lembrando o movimento a favor do 'impeachment' do presidente Fernando Collor de Mello, em 1992.
"Fico feliz de ver a minha geração a acordar. Sempre quis ir para a rua, e agora ocorreu o estopim", afirmou à Lusa a publicitária Laura Silva Ratto, 22 anos.
Jn