"Estamos numa fase de grande incerteza no panorama mundial, é esse o 'feedback' que temos tido dos nossos agentes, mas ninguém acredita que vamos cair. Podemos não crescer tanto como o que perspetivávamos crescer, mas ninguém acredita que vamos cair. Portanto, a perspetiva será de crescimento, um crescimento curto, mas que vamos trabalhar o máximo possível para tentar acentuar", afirmou o diretor comercial da Fly London.
Em declarações, hoje, aos jornalistas no arranque do primeiro de quatro dias da feira de calçado MICAM, em Milão, Itália, Miguel Freitas apontou como grandes condicionantes do desempenho do setor a atual incerteza em torno da "evolução dos níveis de consumo, da inflação e da própria guerra na Ucrânia".
"Sentimos isso, por exemplo, no mercado alemão, onde as pessoas estão um bocado mais retraídas. Antigamente comprar sapatos era quase uma prioridade, mas hoje em dia, face ao baixo poder de compra que as pessoas têm, caiu para segundo plano, porque ninguém sabe muito bem o dia de amanhã. E esse é o 'feedback' que temos recebido dos nossos agentes no mercado alemão", referiu.
Embora ressalvando que só agora está a arrancar a estação de inverno (2023/2024), o diretor comercial assume que "o objetivo, nesta fase, é não descer".
"E para já estamos a conseguir isso", congratula-se, apontando o crescimento "na casa dos 10%", para cerca de 25 milhões de euros, da faturação registada em 2022 com as marcas Fly London e Softinos.
E se, no ano passado, a instabilidade de preços das matérias-primas foi tal que "ninguém sabia com o que é que havia de contar", a Kyaia -- empresa com sede em Guimarães detetora das duas marcas -- fala agora numa maior estabilização, "num nível alto, mas comportável" para o negócio.
Opinião algo diferente tem o administrador da empresa Cruz de Pedra, para quem, a par da falta de mão de obra, "o preço das matérias-primas continua a ser um problema": "Há sempre algum produto que está em constante oscilação de preços. Se houver dinheiro, há matéria-prima. Se não há dinheiro, não há matéria-prima", disse José Afonso Pontes aos jornalistas.
Como resultado, torna-se difícil "segurar os preços por muito tempo", sendo a empresa, também de Guimarães, forçada a "fazer produções mais curtas e com entrega mais rápida, para sustentar os preços".
"Posso dizer que temos variações de preços entre 15 a 25% nas matérias-primas, de duas em duas semanas. Por isso, damos orçamentos ao cliente [válidos apenas] por duas semanas a um mês, porque, de outra forma, não se conseguem segurar os preços", concretizou o empresário.
Fundada em 1945 e atualmente gerida pela terceira geração, a Cruz de Pedra é especializada em sapatos de homem do segmento médio/alto, tem 90 trabalhadores e faturou seis milhões de euros em 2022, mais 15% que no ano anterior e um valor já nos níveis pré-pandemia.
Após o bom desempenho do ano passado, o administrador confessa-se agora "no meio da ponte, sem saber o que vai ocorrer" em 2023.
"Mediante as circunstâncias, com as taxas de juro [em alta], vamos ver como é que se vai comportar o consumo, quer a nível nacional, quer na Europa", disse, apontando uma notória "retração" sobretudo "desde o princípio do ano" e "um certo receio dos clientes sobre como vai ser o comportamento a nível do consumo".
"Estamos expectantes", confessa.
Neste contexto, José Afonso Pontes fala numa tendência de crescente encurtamento dos prazos de entrega, com os clientes a tentarem adiar ao máximo a colocação de encomendas, enquanto avaliam a evolução do mercado, e a exigir, depois, tempos de entrega cada vez menores.
"Os clientes prolongam a realização das encomendas, porque querem sentir como se vai comportar o consumo. Querem colocar as encomendas mais tarde e, depois, recebê-las o mais rápido possível, querem um tempo de resposta mais curto", explica, detalhado que o prazo de entrega, habitualmente de 60 dias, ronda agora os 45 dias.
Ainda assim, a Cruz de Pedra -- que exporta mais de 95% da produção, sobretudo para a Europa (Reino Unido, França e Espanha), mas está também "a trabalhar também muito bem com os Estados Unidos" -- garante que as encomendas estão, "para já, bem encaminhadas" e a produção assegurada até abril.
Para o porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), que organiza a participação portuguesa na MICAM, "a expectativa é que 2023 seja um ano de consolidação do calçado português nos mercados internacionais", após o recorde de exportações de 2.347 milhões de euros atingido pelo 'cluster' em 2022, um crescimento de 22,2% face a 2021.
"Sentimos, naturalmente, com um setor altamente exportador como o nosso [95% do calçado português é vendido nos mercados externos], que o abrandamento económico generalizado nos vai afetar. Mas, também por isso, tem havido uma aposta recorrente no setor de procura de novos mercados e as exportações extracomunitárias hoje já significam 20% do total exportado, quando há uma década representavam apenas 9%", afirmou Paulo Gonçalves.
Destacando o "conjunto de janelas de oportunidade em vários países e em vários mercados" apontado no plano estratégico do setor para a próxima década, apresentado em outubro passado pela associação, o responsável da APICCAPS destaca os Estados Unidos como uma das grandes aposta de futuro da indústria portuguesa do calçado.
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"Sentimos isso, por exemplo, no mercado alemão, onde as pessoas estão um bocado mais retraídas. Antigamente comprar sapatos era quase uma prioridade, mas hoje em dia, face ao baixo poder de compra que as pessoas têm, caiu para segundo plano, porque ninguém sabe muito bem o dia de amanhã. E esse é o 'feedback' que temos recebido dos nossos agentes no mercado alemão", referiu.
Embora ressalvando que só agora está a arrancar a estação de inverno (2023/2024), o diretor comercial assume que "o objetivo, nesta fase, é não descer".
"E para já estamos a conseguir isso", congratula-se, apontando o crescimento "na casa dos 10%", para cerca de 25 milhões de euros, da faturação registada em 2022 com as marcas Fly London e Softinos.
E se, no ano passado, a instabilidade de preços das matérias-primas foi tal que "ninguém sabia com o que é que havia de contar", a Kyaia -- empresa com sede em Guimarães detetora das duas marcas -- fala agora numa maior estabilização, "num nível alto, mas comportável" para o negócio.
Opinião algo diferente tem o administrador da empresa Cruz de Pedra, para quem, a par da falta de mão de obra, "o preço das matérias-primas continua a ser um problema": "Há sempre algum produto que está em constante oscilação de preços. Se houver dinheiro, há matéria-prima. Se não há dinheiro, não há matéria-prima", disse José Afonso Pontes aos jornalistas.
Como resultado, torna-se difícil "segurar os preços por muito tempo", sendo a empresa, também de Guimarães, forçada a "fazer produções mais curtas e com entrega mais rápida, para sustentar os preços".
"Posso dizer que temos variações de preços entre 15 a 25% nas matérias-primas, de duas em duas semanas. Por isso, damos orçamentos ao cliente [válidos apenas] por duas semanas a um mês, porque, de outra forma, não se conseguem segurar os preços", concretizou o empresário.
Fundada em 1945 e atualmente gerida pela terceira geração, a Cruz de Pedra é especializada em sapatos de homem do segmento médio/alto, tem 90 trabalhadores e faturou seis milhões de euros em 2022, mais 15% que no ano anterior e um valor já nos níveis pré-pandemia.
Após o bom desempenho do ano passado, o administrador confessa-se agora "no meio da ponte, sem saber o que vai ocorrer" em 2023.
"Mediante as circunstâncias, com as taxas de juro [em alta], vamos ver como é que se vai comportar o consumo, quer a nível nacional, quer na Europa", disse, apontando uma notória "retração" sobretudo "desde o princípio do ano" e "um certo receio dos clientes sobre como vai ser o comportamento a nível do consumo".
"Estamos expectantes", confessa.
Neste contexto, José Afonso Pontes fala numa tendência de crescente encurtamento dos prazos de entrega, com os clientes a tentarem adiar ao máximo a colocação de encomendas, enquanto avaliam a evolução do mercado, e a exigir, depois, tempos de entrega cada vez menores.
"Os clientes prolongam a realização das encomendas, porque querem sentir como se vai comportar o consumo. Querem colocar as encomendas mais tarde e, depois, recebê-las o mais rápido possível, querem um tempo de resposta mais curto", explica, detalhado que o prazo de entrega, habitualmente de 60 dias, ronda agora os 45 dias.
Ainda assim, a Cruz de Pedra -- que exporta mais de 95% da produção, sobretudo para a Europa (Reino Unido, França e Espanha), mas está também "a trabalhar também muito bem com os Estados Unidos" -- garante que as encomendas estão, "para já, bem encaminhadas" e a produção assegurada até abril.
Para o porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), que organiza a participação portuguesa na MICAM, "a expectativa é que 2023 seja um ano de consolidação do calçado português nos mercados internacionais", após o recorde de exportações de 2.347 milhões de euros atingido pelo 'cluster' em 2022, um crescimento de 22,2% face a 2021.
"Sentimos, naturalmente, com um setor altamente exportador como o nosso [95% do calçado português é vendido nos mercados externos], que o abrandamento económico generalizado nos vai afetar. Mas, também por isso, tem havido uma aposta recorrente no setor de procura de novos mercados e as exportações extracomunitárias hoje já significam 20% do total exportado, quando há uma década representavam apenas 9%", afirmou Paulo Gonçalves.
Destacando o "conjunto de janelas de oportunidade em vários países e em vários mercados" apontado no plano estratégico do setor para a próxima década, apresentado em outubro passado pela associação, o responsável da APICCAPS destaca os Estados Unidos como uma das grandes aposta de futuro da indústria portuguesa do calçado.
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