Chef gourmet entre suspeitos de golpe de Estado na Alemanha

Lordelo

Avensat
Um chef gourmet e um ex-polícia negacionista da Covid-19 que, outrora, esteve encarregue da proteção de comunidades judaicas de ataques terroristas, são dois dos 25 detidos pelas autoridades alemãs, alegadamente por pertencerem a um grupo extremista que planeava derrubar o governo daquele país.



Frank Heppner, um conhecido chefe de Munique, foi detido, na quarta-feira, num hotel de cinco estrelas na Áustria, onde trabalhava, diz o The Guardian. Heppner, de 62 anos, seria membro da ala militar do grupo terrorista, responsável por recrutar novos membros, obter armas e estabelecer uma estrutura de comunicações infalível.

Caso o plano tivesse resultado, ficaria a cargo das refeições do autoproclamado “novo exército alemão”. Seria, além disso, o cozinheiro pessoal do cabecilha 'Príncipe Heinrich XIII', depois de este ser declarado rei.

O chef, cuja filha de 28 anos é namorada de David Alaba, jogador de futebol do Real Madrid e capitão da seleção austríaca, forneceu ainda dinheiro, utensílios de cozinha, um gerador de emergência e uma carrinha de campismo ao grupo.

Outro dos detidos recentemente identificados é Michael Fritsch, ex-polícia negacionista da Covid-19, que esteve encarregue da proteção de comunidades judaicas de ataques terroristas. Fritsch, de 58 anos, e sua companheira, Melanie Ritter, foram detidos em Hanover, na Alemanha.

O antigo polícia foi dispensado das suas funções em 2020 e, posteriormente, demitido, por ter estado presente em protestos organizados por negacionistas da Covid-19. Tornou-se, depois, candidato ao partido DieBasis, associado à negação do SARS-CoV-2.

O número de suspeitos aumentou para 54, na sexta-feira, pelo que são esperadas mais detenções, segundo o The Guardian. Foram também encontradas armas em mais de 50 locais, assim como uma lista com 18 nomes e endereços postais de políticos e jornalistas alemães, que o grupo poderia querer atingir. Entre eles encontra-se a ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, e outros seis membros do parlamento.

Recorde-se que a Procuradoria-Geral da Alemanha pediu às autoridades italianas e austríacas a extradição de dois dos suspeitos, na sexta-feira, dias depois de a entidade ter dado conta da detenção de 25 pessoas que são, alegadamente, membros e seguidores de uma "organização terrorista" que pretendia acabar com o governo alemão, na sequência de uma série de rusgas efetuadas em 11 Estados federados.

Dos detidos, 22 foram acusados de pertença este grupo, e os restantes três enfrentam acusações de cumplicidade. Todos são de nacionalidade alemã, exceto uma cidadã russa, e aguardarão julgamento em prisão preventiva.

A Procuradoria alemã alertou, na quarta-feira, que "os membros da associação têm consciência de que este projeto só poderia concretizar-se através de meios militares e violentos contra representantes do estado, o que incluía cometer homicídios", e indicou que os acusados se unem por "um profundo repúdio das instituições estatais e da ordem democrática livre na Alemanha".

Além disso, identificou os presumíveis cabecilhas como 'Rudiger' e 'Príncipe Heinrich XIII'. Este último, um empresário de 71 anos, é tetraneto de Guilherme II da Alemanha, o último imperador alemão e rei da Prússia, que foi obrigado a abdicar em 1918, após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Segundo as autoridades alemãs, os suspeitos, membros do movimento de extrema-direita 'Reichsbürger' (Cidadãos do Reich), não só negam a legitimidade da atual Constituição e do atual governo da Alemanha, como defendem, em vez disso, que o Império Alemão, ou Reich, de 1871, ainda existe.

Os conspiradores alegadamente pretendiam instalar ‘Heinrich XIII’ como chefe do novo governo do país, invadindo o parlamento alemão e detendo os parlamentares. Embora a Alemanha tenha abolido qualquer papel formal para a realeza há mais de um século, ele continua a usar o título de "príncipe" por alegadamente descender da antiga casa real de Reuss.

O caso também chamou a atenção para o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), já que uma das suas ex-deputadas, Birgit Malsack-Winkemann, está entre os detidos. Juíza em Berlim, seria ela a escolhida para se tornar ministra da Justiça, caso o golpe fosse bem-sucedido, indicaram os procuradores do Ministério Público.

Apesar de a liderança do partido ter condenado a conspiração, um dos seus deputados classificou as rusgas como "o maior abuso de poder da história da República Federal da Alemanha".

Políticos adversários, entretanto, apelaram para que as ligações do partido AfD ao movimento ‘Cidadãos do Reich’ sejam investigadas.

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