Judite Sousa arrisca-se a ganhar o título de protagonista do verão nas revistas de sociedade e cor-de-rosa. Num mercado que tem valido perto de meio milhão de revistas vendidas semanalmente, durante o mês de agosto, a jornalista e diretora adjunta da TVI poderá bater todos os recordes em época dourada de vendas destas publicações.
“As revistas deste género de social têm uma sazonalidade, vendem mais no verão porque as pessoas estão de férias, têm mais tempo para o lazer e para se dedicar a este tipo de leitura leve”, diz Fernanda Dias, diretora de publicação da Caras, lembrando que hoje os leitores “já compram só uma única revista”. Mas porquê a procura? “As revistas funcionam como conversas entre amigas, em que as protagonistas vão contando, ano após ano, como emagreceram, como mantêm a forma, vão acompanhando a evolução da vida. As revistas cor-de-rosa têm essa vertente da novela, acompanhamos as personalidades desde que elas aparecem - depois casam-se, têm filhos, divorciam-se, por vezes têm outros casamentos, levam os filhos à escola. No verão, mostramos onde vão à praia e depois quando regressam ao trabalho e como retomam as rotinas.”
Bem longe da típica silly season, revistas como a Caras, a Flash!, a Lux, a Nova Gente e a VIP não tiveram, este ano, mãos a medir nos dois meses mais quentes do ano e foi preciso estar de olho vivo em áreas como o nascimento do herdeiro da coroa britânica George Alexander Louis, o casamento do filho do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, ou a inesperada detenção do ator da TVI Rodrigo Menezes.
Para tentar inverter um mercado em quebra e chegar aos 418 mil exemplares vendidos no ano passado, por semana, durante o mês de agosto, os diretores de revistas tiveram ainda de ter pé ligeiro para conseguir comprar os exclusivos de Luís Figo e da mulher, Helen, de férias em Ibiza, e as imagens de David Cameron, primeiro-ministro britânico, em Aljezur. Jornalistas desdobraram-se a tentar encontrar famosas em fato de banho na praia, exibindo as curvas desenhadas em ginásios nos meses de inverno, ou ainda flagrar romances tórridos como o de Marisa Cruz com o hoquista do FC Porto Pedro Moreira, em pleno areal algarvio, ou a primeira saída noturna de João Pinto com a nova namorada, Ângela.
“Judite Sousa está a ser um dos principais rostos deste verão. Primeiro, foi capa de Caras, em que surge de biquíni, fantástica. Depois, veio a história do divórcio e a entrevista com o jovem milionário que trouxe Pamela Anderson a Portugal [Lorenzo Carvalho], que tem gerado uma violência nas redes sociais que nunca vi uma coisa igual - está a ser um exagero”, afirma Fernanda Dias.
A diretora da Caras não é a única a considerá-lo. “A Judite foi decididamente a figura do verão, tendo em conta a sua situação pessoal e o divórcio”, afirma uma outra editora, que pediu anonimato. Apesar de não saber se a edição em que a pivô do Jornal das 8 surgia “em forma, aos 52 anos” foi a capa mais rentável de 2013, Fernanda Dias não duvida de que “a revista mais vendida do ano surge sempre nesta altura”. Para a Caras, e excluindo dados das vendas eletrónicas, a capa do ano pode “rondar os 90 mil exemplares”.
Cristina é a que mais vende
Com ou sem drama associado, imagens de Cristina Ferreira a veranear com o filho, Tiago, podem estar entre os títulos mais procurados. Ao que foi possível apurar, o toque de Midas da apresentadora da TVI pode valer “um acréscimo estimado de vendas da ordem dos 10%”.
Este ano houve, contudo, uma novidade: “A capa dos duques de Cambridge, Kate e William, a mostrar o bebé recém-nascido, numas fotos superinformais, são um dos assuntos do ano. Não é todos os anos que nascem crianças famosas no verão e este ano aconteceu...”, congratula-se
Fernanda Dias.
Relegados para segundo plano estão os políticos. A ida a banhos do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, na Manta Rota ou do ministro da Defesa, Aguiar Branco, ou até os mergulhos na piscina do ex--primeiro-ministro e atual comentador da RTP José Sócrates já não movem multidões como no ano passado. “Políticos em revista cor-de-rosa não combina. Creio que as pessoas só quereriam ver se fosse uma coisa mais natural. Como matéria, fazemos, mas não é uma boa capa”, justifica a diretora de conteúdos da Caras.
Os bastidores pré-estação
Os preparativos para o verão começam a ser feitos cerca de um mês antes do arranque dos tempos quentes, embora as equipas - compostas maioritariamente por um jornalista e um repórter fotográfico - permaneçam cada vez menos tempo a sul. “Com a crise, mandamos equipas por menos tempo, entre 15 de julho e 15 de agosto”, confirma um dos responsáveis de uma das revistas.
Até ao fecho de edição, não foi possível obter comentários das direções da Nova Gente, líder no segmento [fechou abril com circulação média semanal paga de 93 mil exemplares], da Lux [53 mil] ou da Flash! [43 mil].
As festas que as publicações promovem a sul também ajudam as revistas. “É muito importante fazê-las, dinamizam o fluxo noticioso. As pessoas deixam-se fotografar connosco, depois, fazendo praias, pedimos autorização e, felizmente, temos bastantes sim”, justifica Fernanda Dias, desmistificando a ideia de invasão de privacidade das pessoas que não querem ser fotografadas na praia - as que não querem ser fotografadas, “não vão para as praias onde sabem que há fotógrafos por perto”. É destes locais e destas situações que as “famílias tradicionais portuguesas” mais fogem. “Raramente abrem as portas de suas casas, creio que ainda há preconceito em relação a isso e penso que o motivo seja por serem tradicionais, mas estão nas festas e deixam-se fotografar”, explica a diretora da Caras.
“Quando falamos do verdadeiro jet set, são escolhidas outras publicações. E às vezes não corre bem”, avança. Foi o que sucedeu a Cristina Espírito Santo, membro da família proprietária do Banco Espírito Santo, ao referir-se às suas férias desprendidas na Comporta como “a brincar aos pobrezinhos”. Uma frase que obrigou a filha de Jorge Espírito Santo a um pedido de desculpa e a transformou em assunto principal do falatório de verão.
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