Corpo de vítima de covid entregue à família errada

Lordelo

Avensat
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Caso envolve o Lar de São Lázaro e o Hospital de Santo António, no Porto, e foi comunicado ao Ministério Público. Familiares pedem responsabilidades.

A troca de identidade de duas idosas com covid-19 está a causar grande revolta numa família de Fânzeres, Gondomar. Ambas as doentes, utentes do Lar de São Lázaro, no Porto, deram entrada no Hospital de Santo António, mas apenas uma delas faleceu. O corpo foi entregue à família errada que o cremou e o erro só foi detetado quando a outra idosa regressou, dias depois, recuperada ao lar. A família da falecida Palmira Rocha, de 94 anos, está em "estado de choque", quer que lhes sejam entregues as cinzas para fazer o luto e pede responsabilidades.

O caso ocorreu há mais de uma semana. Duas idosas internadas no Lar de S. Lázaro, pertencente à Santa Casa da Misericórdia do Porto, deram entrada no hospital. O problema é que houve uma troca na identidade das pacientes, antes ou depois de entrarem na unidade de saúde. "Foi-nos comunicado que a minha avó estava infetada e estava internada, mas depois nunca mais nos disseram nada", conta o neto Tiago Rocha. Palmira, de 94 anos, não resistiu ao novo coronavírus e faleceu na terça-feira da semana passada, dia 10 de novembro. O corpo foi entregue aos familiares da outra utente.

"O lar acabou por nos ligar a dizer que tinha havido um problema. Descobriram o erro porque a outra senhora, dada como morta, regressou após alta hospitalar", diz Tiago. Nessa altura já o corpo tinha sido cremado através dos serviços da funerária Servilusa, no crematório da Lapa, construído através de um protocolo entre a empresa e aquela Irmandade.

Palmira tinha nove filhos e toda a família está revoltada. "A minha avó sempre disse que não queria ser cremada e que queria ir para o jazigo de família no cemitério de Fânzeres. Já que esse desejo já não poderá ser respeitado, queremos pelo menos que nos entreguem as cinzas para podermos fazer o funeral", pede o neto.

Autoridades investigam

O problema é que não conhecem a outra família em questão e o lar não dá qualquer informação sobre o assunto. O JN contactou a Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) que, devido à "sensibilidade do tema e aos dados pessoais a ele associados", informa que "pedidos de informações respeitantes a este assunto, deverão ser endereçados ao Hospital de Santo António, o qual poderá de forma devida melhor esclarecer". Por seu lado, fonte hospitalar explica que "muito provavelmente as identidades já deviam vir trocadas" e que, entretanto, "o caso já foi participado às entidades competentes".

"Tudo isto seria evitado se a identificação dos cadáveres fosse feita como no Instituto de Medicina Legal que enviam uma foto do corpo para a família. No Hospital de Santo António, os agentes funerários não têm acesso à visualização do cadáver e basta um documento para um corpo ser levantado", explica João Barbosa, proprietário de uma empresa funerária em S. Cosme, Gondomar.

Cabe agora ao Ministério Público resolver a situação, até porque a declaração de óbito que foi passada é referente a uma pessoa que está viva e, para todos os efeitos legais, Palmira Rocha também não morreu. Só depois de desfeito o erro é que as cinzas serão entregues aos "verdadeiros" familiares.

"É lamentável e pedimos desculpa a ambas as famílias", diz António Tavares, provedor da SCMP para quem a troca de identidades terá ocorrido na "normal confusão em tempo de pandemia" após a chegada ao hospital.

O provedor afirma que a situação causou "grande sofrimento na instituição sobretudo a nível psicológico na equipa que acompanhava de perto as idosas". Para que casos como este não se repitam, a partir de agora, todos os idosos em instituições da SCMP só poderão sair com pulseira identificativa

IN:JN
 
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