Salários aumentam até 2%

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Depois de quatro anos de estagnação salarial no sector privado, há aumentos tímidos no próximo ano. Não há uma tendência generalizada para subidas de vencimentos e apenas empresas com mais folga na tesouraria estão a negociar subidas entre 1% e 2%, segundo as confederações e associações patronais contactadas pelo SOL.

A generalidade das previsões económicas indica que o clima de negócios está a melhorar em Portugal, mas há riscos no horizonte. A perda de rendimentos de funcionários públicos e pensionistas em 2014 pode aumentar o crédito malparado e diminuir a procura interna. A incerteza faz com que a cautela seja ainda o sentimento dominante, embora haja sinais de que haverá empresas a aumentar salários.

É o caso da indústria pesada. Rafael Campos Pereira, vice-presidente Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), adianta ao SOL que a prioridade em 2014 será “a manutenção dos postos de trabalho com algumas correcções salariais, essencialmente nos segmentos inferiores das grelhas salariais”.

Como o sector tem “realidades muito diversas”, as políticas de vencimentos em 2014 serão distintas. Mas “algumas empresas de maior dimensão estão a ponderar actualizações salariais até 2%”, revela.

O sector metalúrgico e metalomecânico tem sido preponderante na recuperação das exportações nos últimos anos. Com o crescimento dos negócios fora do país, há empresas com margem para subidas. Rafael Campos Pereira indica que o sector “conseguiu ao longo dos últimos dois anos evitar reduzir os salários globais e conseguiu inclusivamente fazer crescer os mais baixos”.

Nos têxteis, aumentos salariais são também pouco expressivos, mas existem. “Em termos gerais, a situação das empresas ainda é difícil e a estrutura de custos tem de ser mantida”, justifica ao SOL João Costa, presidente da Associação Têxtil de Portugal, lembrando que as empresas portuguesas têm de enfrentar a concorrência internacional.

Apesar de tudo, o dirigente antecipa que haja margem para aumentos localizados de salários, até porque muitos grupos têm de reter o pessoal mais qualificado. “Apesar das dificuldades, as empresas têm vindo a fazer melhorias nos vencimentos e no próximo ano deve acontecer o mesmo”, revela, antecipando que as empresas que aumentarem os salários fiquem num intervalo entre 1% e 2%.

Segundo João Costa, a disponibilidade para actualizações salariais tem que ver com a melhoria do ambiente de negócios. As exportações de têxteis subiram mais de 2% até Setembro e já estão no mesmo patamar registado em 2007 - antes do surgimento da crise económica mundial.

No comércio e nos serviços, há realidades distintas. Nas grandes cadeias de hipermercados, o espaço para aumentos é reduzido. Segundo explicou ao SOL Ana Isabel Trigo, directora-geral da APED, a associação que representa os retalhistas, “a negociação do contrato colectivo, no âmbito da qual se acordam revisões às tabelas salariais, está limitada e sofre um grande constrangimento”.

Como “não temos ainda crescimento económico sustentado” e os sinais positivos no consumo “ainda são débeis”, a principal preocupação das empresas “continua a ser a criação e manutenção de postos de trabalho, bem como a adaptação dos tempos de trabalho às características do sector da distribuição”.

No pequeno comércio e nos serviços, a realidade das empresas é também “muito heterogénea”, refere João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP). Nas empresas mais dependentes da procura interna, a margem para aumentos é “diminuta”. Em áreas de actividade internacionalizadas, como as tecnologias de informação e comunicação, poderá haver disponibilidade financeira para aumentar a massa salarial.

Nos grupos com mais pessoal ao serviço, onde os custos salariais são determinantes, o impacto de aumentos é grande, pelo que Vieira Lopes antecipa até que as empresas de pequena e média dimensão tenham “maior flexibilidade” para ajustar salários.

Troika quer reduzir salários

De qualquer forma, eventuais aumentos serão ainda pouco expressivos, em linha com a inflação. No Orçamento do Estado para 2014, o Governo antecipa que os preços subam 1% no próximo ano, pelo que, para o presidente da CCP, as empresas devem ter esse valor como referência. “Podem até ficar um pouco abaixo”, admite.

Caso se confirmem as intenções de aumentar salários, ainda que de forma ligeira, a economia portuguesa poderá inverter um ciclo prolongado de estagnação salarial. Segundo uma análise económica do Royal Bank of Scotland divulgada esta semana, os salários do sector privado em Portugal estagnaram entre 2008 e 2012. A seguir à Grécia, onde os vencimentos no sector privado recuaram cerca de 10% no mesmo período, Portugal é o país da Europa com maior contenção dos custos salariais.

Mas aumentos salariais em 2014 vão deixar os técnicos da troika descontentes. Nas sucessivas avaliações ao programa de assistência português, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Comissão Europeia têm defendido descidas dos salários. Como grande parte do ajustamento tem sido feito à custa da descida de rendimentos no sector público, os credores entendem que o sector privado deve ter mais flexibilidade salarial. O relatório do FMI das 8.ª e 9.ª avaliações frisa de novo essa necessidade: “Como o aumento da produtividade demora tempo, melhorar a competitividade externa também requer reduzir os custos de produção, incluindo os salários”.

[size=8pt]fonte:sol[/size]
 
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