Um ano de guerra: Tensão, escassez e silêncio nas áreas ocupadas

avense

Youtuber
Staff member
Fundador
Administrador
Com a maior parte da família ainda na Ucrânia, a analista partilhou o relato daqueles que vivem sob ocupação desde a primavera de 2022 sobretudo em Berdyansk, uma cidade no sul do país a 85 quilómetros de Mariupol que tinha 100 mil habitantes quando estalou o conflito.


"É tenso. A administração ocupante está a criar novas regras, está a 'encorajar' fortemente as pessoas a obterem passaportes russos", afirmou. "Há escassez de bens de consumo na cidade onde os meus familiares estão localizados, em Berdyansk, porque os negócios locais foram-se embora e não querem colaborar com a administração russa", contou. "Há escassez de bens, há escassez de produtos farmacêuticos e é stressante.".

Numa situação volátil, Kasianenko refere que há medo e instabilidade entre os que sonham com a viragem. "As pessoas estão assustadas, não sabem bem o que esperar. Muitos estão à espera da libertação e têm esperança que o exército ucraniano avance e liberte o sul", contou.

Mas há também habitantes que já só querem paz a qualquer custo. "Várias outras pessoas parecem estar conformadas com a situação. Do que ouço, algumas estão contentes pela ocupação russa daquela área. Pensam que a vida será essencialmente melhor sob o poder russo".

Os motivos, disse Kasianenko, passam muito pela propaganda e por estratégias como a descida dos preços da eletricidade. "Penso que é assim que o governo ocupante está a tentar criar alguma forma de legitimidade e complacência", frisou a analista. "Dizem que os preços vão baixar e as vidas das pessoas vão melhorar financeiramente".

Por outro lado, há uma campanha forte de propaganda nos meios disponíveis, já que a televisão ucraniana foi desligada e os habitantes só têm acesso a meios de comunicação controlados pelo estado russo nas áreas sob ocupação.

"As narrativas que eles avançam são unilaterais, onde os ucranianos são retratados como fascistas e assassinos e o Ocidente é mostrado como o lado inimigo neste conflito", explicou Kasianenko. "As pessoas querem paz, acreditam no que veem e no que leem online".

Neste contexto também há medo de falar. "As pessoas que são contra a ocupação têm de se manter em silêncio e não partilham opiniões além do círculo familiar", referiu. "Nem sequer discutem tais coisas ao telefone, porque não sabem quem pode estar à escuta". O serviço de internet e de telemóvel tem estado com muitas falhas e há quem suspeite que isso está relacionado com a potencial vigilância russa.

A fragilidade das linhas de comunicação e o medo das escutas tornam difícil perceber a percentagem de pessoas que vivem em zonas ocupadas que são realmente complacentes ou estão à espera da libertação. O desejo comum é "que as suas vidas continuem, querem voltar à paz nas suas vidas".

Todavia, Kasianenko não antevê uma resolução próxima do conflito e indica que a guerra deverá continuar pelo menos até ao final deste ano. Longe está a visão esperançada de 2022 de que a resistência ucraniana e o apoio ocidental levariam a repelir os russos totalmente.

"Tenho esperança que vamos ver mais avanços ucranianos, de forma similar ao que vimos no outono do ano passado", indicou, quando a região de Kharkiv e parte da região de Kherson foram libertadas e houve avanços na região de Donetsk. "Mas penso que a guerra vai continuar, pelo menos até ao final de 2023".

Leia Também:

 
Voltar
Topo