Giro: João Almeida perde tempo mas tem o pódio praticamente certo
Na demolidora etapa rainha da Volta à Itália marcada pela alta montanha, com início em Langarone e final em Tre Cime di Lavaredo, local mítico do ciclismo e no qual brilharam os nomes sonantes do ciclismo mundial, João Almeida (Emirates, defendeu-se, atacou e batalhou lado a lado com Primoz Roglic (Jumbo) e Geraint Thomas (Ineos) numa empolgante luta de gigantes entre os três melhores ciclistas da competição.
A etapa com cinco contagens de montanha acabou por ser muito tática por parte dos homens que lutam pela geral. João Almeida manteve-se em posição de alerta na roda de Roglic ou Thomas, respondeu aos ataques, recuperou uma centena de metros quando Roglic atacou na entrada do ultimo quilometro, mas já não teve forças para ir à roda quando Geraint Thomas disparou a 400 metros e levou Primoz Roglic que se mostrou ao seu melhor nível, e lá se foram 23s para o esloveno e 20s para o camisola rosa, mantendo o terceiro lugar na geral, com todas as possibilidades de subir ao pódio domingo em Roma.
«Numa etapa muito difícil dei tudo o que tinha e penso que não foi muito mau. Estive na frente até aos 7 km, mas Roglic e Thomas foram um bocadinho mais rápidos do que eu. No geral estou satisfeito e ainda falta amanhã, que vai ser um dia muito difícil no qual vou fazer o meu melhor. A subida final era muito inclinada para atacar e distanciar-me, além de precisar de ter boas pernas e eu já não as tinha. No final sofri um bocadinho mas vamos terminar depois de amanhã em Roma e o pódio continua a ser o meu objetivo. Vai ser difícil mas não é impossível recuperar o tempo para Thomas e Roglic, vou dar tudo e veremos. No geral estou satisfeito com o desfecho final», declarou João Almeida.
Tudo se vai decidir na terrível cronoescalada de sábado à tarde ao Monte Lussari, os tormentosos 7,3 km irão colocar todos os ciclistas nos seus lugares. Thomas e Roglic levam vantagem sobre João Almeida, que tem praticamente garantido o terceiro lugar e o primeiro no prémio da juventude (camisola branca), feito importante para o ciclismo português, atingindo os objetivos com que alinhou à partida.
Roglic ganhou três segundos a Thomas e promete lutar pelo primeiro lugar: «Senti-me muito bem e as pernas estão de volta. Claro que tenho fé para amanhã em conseguir um bom resultado, o melhor dos dois vencerá. A etapa foi longa e muito dura mas todos fizeram os mesmos quilómetros, estamos em igualdade. O contrarrelógio vai ser complicado, a subida tem que ser bem memorizada, o doseamento de esforço será decisivo e no final fazem-se as contas e vencerá o melhor», frisou Roglic que voltou a mudar de bicicleta, o que faz habitualmente nos últimos 20 km nas etapas de montanha.
Geraint Thomas (camisola rosa) afirmou que o contrarrelógio irá ser emocionante: «Ataquei a 400 metros da meta, mas depressa viram que estava a ficar demasiado longe, Roglic respondeu e conseguiu superar-me nos últimos 100 metros. Perdi alguns segundos, mas foi bom ganhar tempo a Almeida. O contrarrelógio será muito emocionante e divertido de ver, mas horrível de fazer por parte dos ciclistas.»
Na luta pela vitória na etapa estiveram envolvidos 11 fugitivos, Santiago Buitrago (Bahrain), Magnus Cort (Education), Derek Gee (Israel), Carlos Verona (Movistar), Michael Hepburn (Jayco), Nicolas Prodhomme (AG2R), Vadim Pronskiy (Astana), Larry Warbasse (AG2R), Davide Gabburo (Green Project), Stefano Oldani (Alpecin) e Patrick Konrad (BORA).
A vantagem que chegou a bater nos 7 minutos foi diminuindo, o mesmo aconteceu com o grupo que foi dicando cada vez mais reduzido, no qual se destacaram nos últimos quilómetros o colombiano Buitrago e o canadiano Derek Gee, com Buitrago a vencer e a inscrever o seu nome nos colunáveis de Tre Cime di Lavaredo: «Pessoalmente foi um Giro muito difícil, queria vencer algumas etapas mas só consegui levantar os braços em Tre Cime di Lavaredo e isso é incrível. Esta é a recompensa por todo o trabalho muito duro que fiz. Ao longo das etapas trabalhei muito para equipa que realizou um grande Giro. É fantástico poder agir e conquistar mais uma vitória para a equipa. Dá muita moral ver que estamos colhendo os frutos do nosso árduo trabalho. Gee vinha na minha frente e era uma espécie de alvo. Queria mantê-lo dentro do alcance para o não perder de vista. No final com mais de um quilometro por percorrer, dei tudo de mim. Foi bonito mas muito difícil», afirmou Buitrago.
Giro: Primoz Roglic é o vencedor, João Almeida termina em 3.º
Parabéns, João Almeida! Não se podia exigir mais ao ciclista português que mais uma vez se empregou a fundo e deu o máximo no descomunal contrarrelógio que definiu a geral na Volta à Itália, numa tremenda subida na qual Primoz Roglic (Jumbo-Visma) confirmou ser o mais forte e proclamar-se vencedor da Volta à Itália, com a diferença de 14 segundos para Geraint Thomas (Ineos), a segunda menor mas 106 edições já realizadas.
O objetivo de João Almeida estar no pódio em Roma foi conseguido, o terceiro lugar constitui o quarto pódio de portugueses nas três grandes voltas, juntando-se ao imortal Joaquim Agostino, segundo na Volta à Espanha em 1974, terceiro na Volta à França em 1978 e 1979, a que junta o primeiro lugar no prémio da juventude, a segunda classificação secundária depois de Ruben Guerreiro ter sido em 2020, o vencedor do premio da montanha.
«Ficar em terceiro lugar na Volta à Itália é muito bom e alcancei o meu objetivo. Também ganhei uma etapa, a camisola da juventude e estou muito satisfeito e ansioso pelo futuro. Espero que este seja apenas o começo» declarações de João Almeida no final da etapa que sobre o contrarrelógio avançou; «Empreguei-me a fundo, tentei dosear o esforço e não explodir. Acho que fiz uma boa subida, melhorando quilómetro a quilómetro e estou contente com isso. Primoz foi simplesmente incrível.
Pensava que Primoz e Thomas fossem mais rápidos do que eu, estou feliz com o resultado e ansioso por terminar amanhã e a seguir ter um bom período de descanso».
O contrarrelógio de João Almeida ficou marcado pela regularidade, sustentada no doseamento de esforço, que lhe permitiu registar o 3.º melhor tempo no ponto intermédio aos 10,8 km, 5.º no segundo aos 14,3 km, 3.º aos 18 km e na meta, gastando mais 40 segundos que Primoz Roglic e dois segundos que Geraint Thomas, mantendo o terceiro lugar na geral com menos 3,25 m que Damiano Caruso que foi o quarto classificado.
A corrida de Primoz Roglic foi de menos a mais, depois de ter sofrido uma queda e passar por dificuldades em algumas etapas de montanha, onde Geraint Thomas poderia ter sentenciado a geral, mas tal não aconteceu. A experiencia de Roglic, vencedor de três Voltas à Espanha, foi determinante na fase crucial da Volta à Itália, impondo-se de forma concludente na difícil subida ao Monte Lussari, durante a qual nem uma avaria mecânica, impediu de terminar em primeiro lugar, numa etapa que obrigou a organização a utilizar meios logísticos nunca vistos numa corrida de bicicletas.
«Tive boas pernas mas todos aqueles fãs deram-me muitos watts extras. Não se trata da vitória, mas sim as pessoas. Eu sabia que estava com boas sensações e boas pernas, mas todas aquelas pessoas a incentivarem-me deram-me força extra para conseguir ganhar», palavras de Roglic que sobre a avaria acrescentou; «Faz parte da corrida e nunca entrei em pânico, apenas coloquei a corrente no sitio e voltei a montar a bicicleta. A ultima etapa normalmente é uma formalidade, é mais um dia, a Volta à Itália só termina quando se cortar a meta em Roma, mas parece ser bom».
Geraint Thomas afirmou não ter desculpas porque Roglic foi melhor; «Não quero arranjar desculpas, mas fazer um contrarrelógio com uma bicicleta normal é bastante estranho. Prefiro perder por esta margem do que ficar preso por dois segundos, isso seria mais azedo. Primoz destruiu-me e ele merce ser o vencedor. O problema mecânico não o impediu de ganhar tempo. Antes do Giro eu sonhava com a vitória, mas agora fico um bocado desconfortável. O ciclismo não tem vencedores antecipados e no final ganha sempre o melhor».
A penúltima etapa, o contrarrelógio individual entre Tarviso e Monte Lussari na distância de 18,6 km, provocou como se esperava algumas importantes alterações na classificação geral começando pela mudança de camisola rosa que passou do corpo de Geraint Thomas para o de Primoz Roglic, Thibaut Pinot (Groupama) que ficou em 5.º lugar, Thymen Arensman (Ineos) e Andreas Leknessund (Team DSM), acabaram por subir uma posição, ao contrário de Eddie Dunbar (Jayco-Alula) que foi o mais penalizado e desceu dois lugares.
19.ª ETAPA TARVISIO - MONTE LUSSARI KM (CRI)
1.º Primoz Roglic (Slo/Jumbo-Visma) 44,23 m à média de 25,145 km/h
2.º Geraint Thomas (Gbr/Ineos-Grenadiers) a 40 s
3.º João Almeida (Por/UAE-Team Emirates) a 42 s
4.º Damiano Caruso (Ita/Bahrain-Victorious) a 55 s
5.º Thibaut Pinot (Fra/Groupama-FDJ) a 59 s
6.º Sep Kuss (Usa/UAE-Team Emirates) a 1,05 m
7.º Brandon McNulty (Usa/UAE Team Emirates) a 1,07 m
8.º Thymen Arensman (Ned/Ineos-Grenadiers) a 1,18 m
9.º Andreas Leknessund (Din/Team DSM) a 1,49 m
10.º Jay Vine (Aus/UAE-Team Emirates) a 1,53 m
CLASSIFICAÇÃO GERAL
1.º Primoz Roglic (Slo/Jumbo-Visma) 82.40,36 h
2.º Geraint Thomas (Gbr/Ineos-Grenadiers) a 14 s
3.º João Almeida (Por/UAE Team Emirates) a 1,15 m
4.º Damiano Caruso (Ita/Bahrain Victorious) a 4,40 m
5.º Thibaut Pinot (Fra/Groupama-FDJ) a 5,43 m
6.º Thymen Arensman (Ned/Ineos-Grenadiers) a 6,05 m
7.º Eddie Dunbar (Irl/Jayco-Alula) a 7,30 m
8.º Andreas Leknessund (Din/Team DSM) a 7,31 m
9.º Lennard Kamna (Ale/Bora-Hansgrohe) a 7,46 m
10.º Laurens De Plus (Bel/Ineos-Grenadiers) a 9,08 m
PONTOS
1.º Jonathan Milan (Ita/Bahrain-Victorious)
MONTANHA
1.º Thibaut Pinot (Fra/Groupama-FDJ)
JUVENTUDE
1.º João Almeida (Por/UAE-Team Emirates)
EQUIPAS
1.ª Bahrain-Victorious 247.56,00 h
2.ª Ineos Grenadiers a 16,22 m
3.ª Jumbo-Visma a 30,40 m
Roglic vence o Giro, João Almeida faz inédito e histórico pódio!
Com a 21.ª e última etapa, um circuito urbano de 126 km em Roma, concluiu-se na tarde deste domingo a edição da Volta a Itália, ganha pelo esloveno Primoz Roglic (Jumbo-Visma), com o galês Geraint Thomas (Ineos-Grenadiers) a ficar no segundo lugar, a 14 segundos e, feito inédito e histórico, pela primeira vez na história do Giro, desde a primeira edição, em 1909, um português, João Almeida, de 24 anos (Team UAE-Emirates) a concluir a prova no pódio, no terceiro lugar, a 1m15s do vencedor final.
João Almeida faz apenas o quarto pódio de ciclistas nacionais numa das três grandes voltas (Giro, Tour e Vuelta), depois dos dois terceiros lugares de Joaquim Agostinho no Tour, em 1978 e 1979, e do segundo lugar do mesmo Joaquim Agostinho na Vuelta de 1974.
Almeida é apenas o segundo português na história a subir ao pódio numa das três grandes voltas, 44 anos após Joaquim Agostinho o ter conseguido pela terceira e última vez na Volta a França, e o primeiro de sempre na Volta a Itália.
A vitória na última etapa, discutida ao sprint e com chegada em pelotão, marcada pela violenta queda do alemão Pascal Ackerman, de 29 anos (Bora-Hangsrohe) já na reta da meta, foi para o veterano (38 anos) britânico Mark Cavendish (Astana-Cazaquistão), natural da Ilha de Man.