[size=14pt]«É evidente que esperava ter mais títulos conquistados nestes anos» – Luís Filipe Vieira[/size]
É com um discurso frontal que o líder encarnado coloca o dedo na ferida que foi o mês de maio de 2013, assume o desalento pelos dois últimos campeonatos que o Benfica «entregou» ao FC Porto. Em entrevista a A BOLA, Luís Filipe Vieira, porém, garante ter um rumo para os encarnados.
Como viveu o presidente do Benfica os dias em que o seu clube tudo foi perdendo, Liga portuguesa, Liga Europa, Taça de Portugal?
- Não há palavras que possam traduzir o sentimento, a sensação de frustração que senti - como todos os benfiquistas - durante esses dias e que acompanhou durante muitas semanas. Tivemos mérito em chegar lá, creio que não tivemos a sorte do jogo em duas dessas finais e, claramente, não estivemos a altura do que nos era exigido na final da Taça de Portugal. É um ano para não esquecer, foi sem dúvida dos momentos mais difíceis que vivi aqui no Benfica.
- A decisão de renovar o contrato de Jorge Jesus, no contexto em que sucedeu, foi a mais difícil, no âmbito desportivo, dos seus mandatos?
- Acho que a pergunta deve ser feita de outra forma. Que gestor, analisando o que tinha sido feito nos últimos 4 anos, tomaria uma opção diferente? Houve uma avaliação séria ao trabalho de Jesus. Este foi o primeiro ano em que, no atual formato da Champions, estivemos no pote 1. No primeiro ano do Jesus o Benfica era 23.º do ranking europeu, na época passada acabamos em 5.º, atrás do Bayern de Munique, do Dortmund, Chelsea e Real Madrid... Isto são factos. Em quatro anos estivemos numa meia-final e numa final europeia... Quando se lidera um Clube como o Benfica há muitas vezes a tentação de gerir com o coração, e isso é o pior que podemos fazer. Jesus cresceu e evoluiu ao longo destes quatro anos, mas o Benfica também evoluiu e cresceu com ele. É evidente, tenho essa noção, seria sempre uma decisão que não mereceria a concordância de todos, mas qual é a decisão que merece unanimidade?
- Fica a ideia de que o Benfica tem tido muita dificuldade em ultrapassar o bloqueio psicológico do maio maldito...
- Acho que efetivamente durante demasiado tempo não nos conseguimos desligar desse final de época. Não começamos o campeonato com zero pontos, começamos muito abaixo de zero, porque efetivamente foi traumático, mas creio que passados estes meses esse capítulo já está fechado. Porventura ainda não estamos a jogar o que jogamos no ano passado, mas vamos lá chegar, estou convencido disso.
- Seis meses depois, já a frio, que balanço faz do caso entre Jesus e Cardozo?
- O mesmo que fiz no próprio dia. Não devia ter acontecido, mas também é verdade que ganhou uma dimensão maior da que devia porque foi um caso que envolvia futebol e envolvia o Benfica. Como é evidente não fiquei satisfeito, mas não podemos nunca retirar do contexto as situações. Sinceramente creio que foi bem resolvido. Não houve nenhum ultimato de ninguém, houve ofertas mas não houve garantias, o jogador reconheceu o erro, foi penalizado e, finalmente reintegrado.
- Não levou muito tempo a resolver?
- Essa é a crítica mais ouvida da parte daqueles que estão de fora, que não percebem que o futebol é um jogo de emoções, que acham que tudo se resolve de forma simples. Muitas vezes acontecem situações que os jogadores não conseguem controlar, há inúmeros casos desses e em todos eles a solução nunca é fácil porque envolve três vertentes: a desportiva, a financeira e a humana. Quem disser que um caso destes é fácil de gerir e resolver não sabe o que está a dizer.
- Continua a sentir Jorge Jesus como parte da solução?
- Pelo que disse atrás, a resposta é sim. Temos beneficiado com a estabilidade da equipa técnica. É evidente que esperava ter mais títulos conquistados nestes anos, mas precipitar uma decisão pode significar destruir um longo caminho que foi construído até aqui.
- A mensagem de Natal que enviou a todos os benfiquistas tinha recados para o treinador?
- Eu não mando recados ao meu treinador, eu falo com ele quando é necessário. Isso não passou de um título de jornal que muito provavelmente não tinha nada melhor para ter na primeira página nesse dia e que, depois, alguns especialistas desenvolveram. Não acha que expressei o sentimento de todos os benfiquistas? Se não digo nada é porque devia dizer, quando manifesto o sentimento de todos os benfiquistas é porque estou a enviar recados..... Há uma coisa que tenho a certeza, Jesus concorda com a mensagem de Natal na totalidade, como aliás já o manifestou publicamente.
- O treinador, como se viu, por exemplo, em Guimarães, não anda com os nervos demasiado à flor da pele?
- Não. O Jesus sempre foi assim, desde o primeiro ano em que chegou ao Benfica sempre foi igual. Não é uma questão de nervos, é uma questão de feitio. Há quem goste, há quem não goste, mas aquilo é ele.